quarta-feira, 23 de novembro de 2011
domingo, 6 de novembro de 2011
Amor à décima primeira vista
O que escrevo não tem
destinatário.
Meras cartas de amor
feitas com paixões futuras e
anônimas.
Jazem nos cantos da minha vida.
Esperam você
com sua letra torta
incrustar no meu peito
seu nome.
(E guardar o lápis de inúmeras cartas
Deixar de viver poesias vazias
Prosas inacabadas
Tornar-me
sua realidade)
destinatário.
Meras cartas de amor
feitas com paixões futuras e
anônimas.
Jazem nos cantos da minha vida.
Esperam você
com sua letra torta
incrustar no meu peito
seu nome.
(E guardar o lápis de inúmeras cartas
Deixar de viver poesias vazias
Prosas inacabadas
Tornar-me
sua realidade)
Amores avulsos
No reflexo dos seus olhos
não existe respostas
Minhas perguntas voltam
retóricas
E me englobam num mundo extasiado
onde a certeza é
você
(eu em você)
não existe respostas
Minhas perguntas voltam
retóricas
E me englobam num mundo extasiado
onde a certeza é
você
(eu em você)
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
O gosto do sangue
Olhavamo-nos longamente. A respiração calou e seria capaz de ouvir nosso coração. Nos meus lábios, a raiva e o desprezo tornavam-no uma massa agridoce. A desordem psicológica me fragmentava. No entanto, meus olhos continuavam pousados nos seus.
Os meus olhos eram seus? Indiscutivelmente seus. Era toda sua. Em tempos imemoráveis, ligamo-nos por uma corda invisível. É verdade que essa mesma corda se tornou a minha forca. A minha garganta ardia e rasgava, mas meus dedos só faziam apertar o nó. Todos os meus sentimentos reverberavam dentro de mim, chocando-se nas paredes orgânicas. O ar me faltava, saia pelos poros enquanto você me olhava risonha. Seu cinismo bailava ao meu redor, ao som do deboche, no compasso do meu fracasso. Você sempre fora graça e leveza. Como conseguira me matar com doses homeopáticas e torturas chinesas? Do meu pescoço, filetes vermelhos escorriam corpo abaixo. Já não importava. O ódio febril me possuía e corroía o torpor. Tudo virava ferrugem sentimental, dando um tom cúprico aos nossos olhos.
Memórias da nossa história, como lembretes espalhados, invadiam minha mente em enxurrada. Eram torrentes de arrependimentos, resignação, fracassos, mentiras. Fui vencida desde o primeiro instante que me esbarrei nalgum canto espelhado. Entreguei-me primeiro por vontade de possuí-la, mas a subjugação já marcava meus pulsos antes mesmo que notasse e a situação se inverteu: de dominadora à dominada. Bebi sua essência e me afoguei na própria ânsia. E agora, diante de você, via a derrocada personificada. O riso irônico rasgou nossos rostos. A que ponto havíamos chegado?
Corriam caudalosos todos os pensamentos até meus punhos, dando força para romperem a barreira que nos separava (ou unia?). Socos secos ecoavam em meio aos estilhaços caídos e eu só pensava em me libertar. Teria sido pretensão ou apenas ignorância? Seu rosto, agora deformado por ângulos agudos, mantinha o riso ácido. Por quê tão invencível? E enquanto mais meus dedos se abriam em vales, mais o ar me faltava. Estava cega, surda de raiva. O pulmão queimava e as paredes da garganta já haviam se colado. Os sentidos se embaralhavam e a cortina da inconsciência cismava em cobrir meus olhos. Tudo se turvou, mas ainda via com dificuldade seu sorriso desmoronar. Sob forma de minúsculo espelhos cadentes, minha vitória se fez plena.
A liberdade, enfim! As carnes inertes ainda formigavam e finalizavam a mórbida dança. Os pés flutuavam no ar quente e sanguinolento. Numa epifania tardia, porém, percebi o que havia se mostrado na origem: éramos unidas pela vida. Opostos complementares presos no mesmo físico, mas tão inconciliáveis. Como era sádico o destino! Quem ria dele agora era eu. Extirpei-lhe sem pudor, mesmo me matando. A corda que fechava a minha garganta era a rachadura no espelho. O seu riso era a minha essência. Extirpei-me, como se faz a um câncer, e junto o peso de ser você, o inconveniente de sermos. Agora, na sala escura, apenas matéria sobrava.
Jaziam nossas antigas gaiolas. Pairava, enfim, a liberdade metafísica.
Os meus olhos eram seus? Indiscutivelmente seus. Era toda sua. Em tempos imemoráveis, ligamo-nos por uma corda invisível. É verdade que essa mesma corda se tornou a minha forca. A minha garganta ardia e rasgava, mas meus dedos só faziam apertar o nó. Todos os meus sentimentos reverberavam dentro de mim, chocando-se nas paredes orgânicas. O ar me faltava, saia pelos poros enquanto você me olhava risonha. Seu cinismo bailava ao meu redor, ao som do deboche, no compasso do meu fracasso. Você sempre fora graça e leveza. Como conseguira me matar com doses homeopáticas e torturas chinesas? Do meu pescoço, filetes vermelhos escorriam corpo abaixo. Já não importava. O ódio febril me possuía e corroía o torpor. Tudo virava ferrugem sentimental, dando um tom cúprico aos nossos olhos.
Memórias da nossa história, como lembretes espalhados, invadiam minha mente em enxurrada. Eram torrentes de arrependimentos, resignação, fracassos, mentiras. Fui vencida desde o primeiro instante que me esbarrei nalgum canto espelhado. Entreguei-me primeiro por vontade de possuí-la, mas a subjugação já marcava meus pulsos antes mesmo que notasse e a situação se inverteu: de dominadora à dominada. Bebi sua essência e me afoguei na própria ânsia. E agora, diante de você, via a derrocada personificada. O riso irônico rasgou nossos rostos. A que ponto havíamos chegado?
Corriam caudalosos todos os pensamentos até meus punhos, dando força para romperem a barreira que nos separava (ou unia?). Socos secos ecoavam em meio aos estilhaços caídos e eu só pensava em me libertar. Teria sido pretensão ou apenas ignorância? Seu rosto, agora deformado por ângulos agudos, mantinha o riso ácido. Por quê tão invencível? E enquanto mais meus dedos se abriam em vales, mais o ar me faltava. Estava cega, surda de raiva. O pulmão queimava e as paredes da garganta já haviam se colado. Os sentidos se embaralhavam e a cortina da inconsciência cismava em cobrir meus olhos. Tudo se turvou, mas ainda via com dificuldade seu sorriso desmoronar. Sob forma de minúsculo espelhos cadentes, minha vitória se fez plena.
A liberdade, enfim! As carnes inertes ainda formigavam e finalizavam a mórbida dança. Os pés flutuavam no ar quente e sanguinolento. Numa epifania tardia, porém, percebi o que havia se mostrado na origem: éramos unidas pela vida. Opostos complementares presos no mesmo físico, mas tão inconciliáveis. Como era sádico o destino! Quem ria dele agora era eu. Extirpei-lhe sem pudor, mesmo me matando. A corda que fechava a minha garganta era a rachadura no espelho. O seu riso era a minha essência. Extirpei-me, como se faz a um câncer, e junto o peso de ser você, o inconveniente de sermos. Agora, na sala escura, apenas matéria sobrava.
Jaziam nossas antigas gaiolas. Pairava, enfim, a liberdade metafísica.
terça-feira, 4 de outubro de 2011
Xícara de café
O café ainda queimava a língua e o açúcar se dissolvia facilmente. Descia a garganta rasgando, mas toda aquela dor era deliciosa.
Um.
Dois.
Três.
Do amargo para o doce foram três goles. Da felicidade para o fracasso, também. O sincretismo do universo intrigava Ana, apesar dos seus problemas com Pedro urgirem por solução. Não queria pensar e não o fazia. Procrastinar problemas era o seu vício.
- Ainda tem café?
- Aham, em cima do fogão. Quer que eu esquente?
- Não precisa.
O diálogo se resumia a um pequeno questionário: perguntas e respostas rápidas. Enquanto o perfume de Pedro se misturava com o aroma do café, Ana observava a xícara derramando o café num gole. Ele ansiava ir embora.
- Almoça em casa?
- Não.
Olhou-a por um instante e a encontrou animalizada, coberta de desgosto e olheiras. Estava aberta, crua e resignada, mostrando tudo que podia e não queria. Porém, já não o espantava e sequer se preocupava! Se perdera noites de sono com as antigas brigas, hoje esperava que a reconciliação viesse aos seus pés. As discussões eram dramatizações românticas, beiravam o ridículo e já tinham perdido o brilho.
Era intrigante como aquele amor se dissolvera em dez meses e três brigas. Amor que arrancava lágrimas enquanto se corroía e, hoje, substituído por indiferença preguiçosa.
Ana monologava algo da mesa, mas Pedro não escutava. Bebia o gole derradeiro, já morno e açucarado. Observava a massa leitosa se misturando lentamente com o resquício do café. Ansiava por mais uma xícara, assim como ansiava todas as manhãs. A rotina era difícil de ser quebrada.
As palavras eram jogadas da sua boca, mas Pedro continuava intocável. Todos os seus sentimentos fermentados já não se traduziam em frases com nexo, no entanto, pouco lhe importava. Era a válvula de escape quando as lágrimas já não davam vazão. Ana pensava em todas as crises e paixões daquele relacionamento nascido na falência.
Calara-se enfim. O turbilhão de emoções resultara no cansaço. O seu choro continuava, agora mudo e descolorindo a xícara suja de café. Não pensava mais. Deveriam ter ido com as palavras, seus pensamentos. No entanto, encontrava-se em paz. Achara o alívio na derrota.
A haste do bule estava fria há tempos. O corpo metálico, entretanto, exalava ainda o calor restante. O silêncio havia se estabelecido no cômodo. Pouco mudara para Pedro. Para ele, o silêncio havia se estabelecido muito antes. A leveza do recipiente indicava o fim do café, mas não deixava de incliná-lo sobre a xícara. Era a esperança dos viciados e dos sonhadores, alimento da ânsia viva, que o impulsionava.
Três gotas se chocaram com o fundo bege. Acabara o amor. Acabara o café. Era hora de ir embora.
Um.
Dois.
Três.
Do amargo para o doce foram três goles. Da felicidade para o fracasso, também. O sincretismo do universo intrigava Ana, apesar dos seus problemas com Pedro urgirem por solução. Não queria pensar e não o fazia. Procrastinar problemas era o seu vício.
- Ainda tem café?
- Aham, em cima do fogão. Quer que eu esquente?
- Não precisa.
O diálogo se resumia a um pequeno questionário: perguntas e respostas rápidas. Enquanto o perfume de Pedro se misturava com o aroma do café, Ana observava a xícara derramando o café num gole. Ele ansiava ir embora.
- Almoça em casa?
- Não.
Olhou-a por um instante e a encontrou animalizada, coberta de desgosto e olheiras. Estava aberta, crua e resignada, mostrando tudo que podia e não queria. Porém, já não o espantava e sequer se preocupava! Se perdera noites de sono com as antigas brigas, hoje esperava que a reconciliação viesse aos seus pés. As discussões eram dramatizações românticas, beiravam o ridículo e já tinham perdido o brilho.
Era intrigante como aquele amor se dissolvera em dez meses e três brigas. Amor que arrancava lágrimas enquanto se corroía e, hoje, substituído por indiferença preguiçosa.
Ana monologava algo da mesa, mas Pedro não escutava. Bebia o gole derradeiro, já morno e açucarado. Observava a massa leitosa se misturando lentamente com o resquício do café. Ansiava por mais uma xícara, assim como ansiava todas as manhãs. A rotina era difícil de ser quebrada.
As palavras eram jogadas da sua boca, mas Pedro continuava intocável. Todos os seus sentimentos fermentados já não se traduziam em frases com nexo, no entanto, pouco lhe importava. Era a válvula de escape quando as lágrimas já não davam vazão. Ana pensava em todas as crises e paixões daquele relacionamento nascido na falência.
Calara-se enfim. O turbilhão de emoções resultara no cansaço. O seu choro continuava, agora mudo e descolorindo a xícara suja de café. Não pensava mais. Deveriam ter ido com as palavras, seus pensamentos. No entanto, encontrava-se em paz. Achara o alívio na derrota.
A haste do bule estava fria há tempos. O corpo metálico, entretanto, exalava ainda o calor restante. O silêncio havia se estabelecido no cômodo. Pouco mudara para Pedro. Para ele, o silêncio havia se estabelecido muito antes. A leveza do recipiente indicava o fim do café, mas não deixava de incliná-lo sobre a xícara. Era a esperança dos viciados e dos sonhadores, alimento da ânsia viva, que o impulsionava.
Três gotas se chocaram com o fundo bege. Acabara o amor. Acabara o café. Era hora de ir embora.
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